e participei da Semana de Arquitetura e Paisagem Urbana em Berlim de 2017. Esse pequeno depoimento não se pretende formal e sim uma descrição pessoal de uma viagem que mudou minha vida. Há milhares de coisas para contar a respeito da viagem, mas decidi falar de alguns detalhes.
Fui parar nessa viagem meio de surpresa, uma coisa levou à outra e de repente estava comprando as passagens e contando meu dinheiro para trocar em euros. Na época em que a minha professora Giovanna Teixeira Damis Vital me convidou para participar desse evento eu estava no 4º período do curso de Arquitetura e Urbanismo na UFU e passava por uma crise pessoal e acadêmica que me fez pensar em desistir do curso. Não comia, não dormia. Com 8kg à menos, olheiras e cicatrizes nas costas de tanto me arranhar, não tinha ânimo para projetar, não me sentia criativa nem competente para ser uma profissional de sucesso. Não tinha fé no meu trabalho e achava esses recursos sustentáveis intangíveis demais.
Continuei estudando como um autômato, os meses foram se passando e “dei de cara” na viagem. Arrumei minha mala na madrugada anterior, mas “minha ficha não caiu” enquanto não desembarquei no aeroporto de Berlim e vi a Maristela Pimentel nos esperando na saída com aquele sorriso enorme e nos chamando pelo nome como amigas de longa data. Ela nos levou em um apartamento que conseguiu por um bom preço, pão de queijo e um livro do Sebastião Salgado, emprestou-nos suas próprias fronhas (porque travesseiros na Alemanha são coisas quadradas e enormes) e entregou-nos uma pasta com o que precisaríamos para aquela semana, tudo perfeitamente organizado.
Tínhamos tíquetes para andar pela cidade de metrô livremente durante a semana inteira, o que nos permitia atravessar a cidade rápida e confortavelmente. Como combinado, no primeiro dia, alugamos as bicicletas para a semana inteira, mas não esperava que íamos andar de bicicleta tanto assim. Fiquei apavorada. Nunca tinha andando de bicicleta na cidade, muito menos na chuva e em avenidas movimentadas. Confusão. Hematomas nas canelas. Um tombo (quase ninguém viu). Tira a capa de chuva, põe a capa de chuva, eita, rasgou tudo. Ficamos inseparáveis, entrava com ela no metrô para ouvir xingamentos em alemão, colocava-a no meu quarto durante à noite. Mas aos poucos fui me soltando, conseguíamos fazer milhares de coisas todos os dias, os motoristas nos respeitavam, havia ciclovias e ciclofaixas em todos os lugares. Atravessávamos os enormes parques em um instante, sentindo o vento e apreciando os detalhes. Minha bicicleta estava etiquetada com nome “Cruella de Vil”, quando a devolvi, percebi que sentiria saudades da Cruella.
Foram dias longos e fisicamente cansativos, mas fiquei encantada com cada convidado que compartilhou seus conhecimentos com a gente, os que mais me marcaram foram o paisagista Falk Sattler, que fez questão de nos dar uma aula sobre a história e o projeto do parque Gleisdreieck em português, acompanhando-nos debaixo de chuva. Depois, Marco Schmidt com seu inglês impecável e impressionante conhecimento técnico nos mostrou os detalhes do funcionamento do sistema de captação, reaproveitamento e purificação de águas pluviais no complexo de 19 edificios integrados na Potsdamer Platz. E principalmente o Prof. Dr. Johannes Kuchler, com seus 77 anos, sua disposição incrível e aulas impossíveis de descrever de tão interessantes, riquíssimas em detalhes, exemplos e argumentos. Tanto na sala quanto em campo. Fiquei encantada. As aulas da Prof. Maristela mudaram completamente minha compreensão de espaço urbano: o centro cívico e político de Berlim, os conjuntos habitacionais e os parques, fiquei emocionada em ver como tudo foi construído! Ver soluções possíveis, aplicadas, concretas e por vezes, simples de executar.
A UfaFabrik tornou-se meu conceito pessoal de comunidade sustentável, as crianças brincando, os adultos trabalhando, as abelhas no telhado jardim, a vida pulsante do lugar.
A imortal Bauhaus com sua influência mundial e mestres intocáveis bem aqui, onde estou almoçando com meus amigos. Os detalhes, o mobiliário.
O Umweltbundesamt de Dessau: maravilhoso, um exemplo de arquitetura contemporânea e ecologicamente correta, belo e interessante, agradável e convidativo
Ah, e o Museu Judaico de Daniel Libeskind! Impossível descrever, tem que sentir, viver, experimentar. A simbologia, a plástica, a força. Uau.
A companhia foi ótima, fiz muitos amigos. Obrigada a todos que compartilharam comigo esse momento incrível, cada um de vocês foi especial.
Tantas coisas, tantas lembranças, tantos aprendizados. Voltei com a certeza de que escolhi a profissão certa pra mim. “E você, Andressa? – me perguntam meus amigos – Está gostando de Arquitetura?” Sim, eu respondo quantas vezes for preciso. Sim, eu não faria qualquer outra coisa.”